Um dia que deve ser enxergado como uma simulação de incêndio.
Não foram os R$ 0,20. (Mas a moeda de 20 centavos, se existisse,
teria a forma da gota d’água). Não foram os estádios da Copa. Não foi a
política econômica mais preocupada com indicadores macro do que com as
promessas de um país mais igualitário.
Não foi só isso.
Vejo o 17 de junho de 2013 como uma espécie de simulação de incêndio.
Quem já trabalhou em edifícios bem altos sabe como funciona. Toca uma
sirene e começa o exercício.
Sempre me senti um pouco idiota antes de abandonar a mesa cheia de
trabalho para serpentear pelas escadas sujas. Mas, lá embaixo, você
entende.
Um dia, vai ser para valer.
O brasileiro, inspirado pela truculência da PM de São Paulo no dia 13
de junho (truculência esta registrada por jornalistas não raro
castigados por balas de borracha e gás tóxico), percebeu que precisava saber se é capaz de se organizar contra abusos.
Abusos. Provocações. Desrespeitos. Fomos ou não fomos desrespeitados
sistematicamente desde a última vez que o povo tomou as ruas? O país
prosperou. Mas o que é passar 4 horas dentro de veículos diariamente
para poder trabalhar?
O que é pagar caro para ter acesso a serviços básicos como saúde ou
educação com o mínimo de qualidade? O que é ver figuras tétricas, múmias
das catacumbas mais profundas instalados nas cadeiras mais altas do
nosso Congresso Nacional?
A presidente Dilma divulgou uma nota, uma nota singela em sua falta
de conteúdo. “As manifestações pacíficas são legítimas e próprias da
democracia. É próprio dos jovens se manifestarem”, afirmou.
Não foram só os jovens. A mãe de um amigo, adovgada na casa dos 50
anos, sem histórico de militância, marcou com as amigas uma visita à
manifestação de São Paulo como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Queria ver, queria sentir os novos ventos mais de perto.
E o que custou colocar 220 mil pessoas pacificamente nas ruas, nossas
ruas? A internet. Não houve grande mídia, não houve grande
conglomerado, não houve big money capaz de interferir. Aconteceu. Gente brotou do chão.
Os protestos de 17/06, em todo o país, significam apenas uma coisa: a
democracia, seja você um poderoso do universo público ou privado, é um
acordo negociado caso a caso.
O voto no político não significa que rubricamos seus documentos, leis
e contratos ao lado da sua assinatura. Queremos ler antes. Se não
concordarmos, não vamos assinar.
E vamos deixar bem claro quando não concordamos. Porque agora a gente
já sabe que basta abrir a porta de casa e ir para um mesmo lugar num
horário combinado. Parafraseando Dylan Thomas: Vamos gentilmente nessa
boa noite escura.
Vocês, que estão pensando apenas na saúde do próprio rabo, vão se surpreender com a quantidade de gente que vai aparecer.