terça-feira, 9 de outubro de 2012

Uma História de Amor e Fúria


Cena da animação “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi
Rodrigo Salem, na Folha de S. Paulo
Brasil, 2096. A água é controlada por uma empresa bilionária chamada Aquabrás. O presidente do Brasil é um pastor evangélico com relações estreitas com milícias que possuem ações na bolsa e matam crianças para proteger interesses da elite.
Não é um futuro tão difícil de imaginar. Mas o potencial de polêmica é o combustível de “Uma História de Amor e Fúria”, animação escrita e dirigida por Luiz Bolognesi, roteirista de “Bicho de Sete Cabeças” (2001), que promete ser um marco do gênero na filmografia brasileira.

‘Uma História de Amor e Fúria’

O desenho, que estreia em abril, será exibido dentro da mostra competitiva do Festival do Rio, tornando-se o primeiro desenho a entrar na disputa.
A animação é um épico que começa em 1566, próximo à fundação do Rio (1565), passa pela revolta da Balaiada, no Maranhão, por movimentos estudantis nas décadas de 1970 e 1980 e culmina neste futuro distópico, cujo maior choque visual é o Cristo Redentor em ruínas.
“O Cristo é o grande símbolo do Rio. Várias pessoas falaram: ‘Cara, você vai ser linchado!’”, contou Bolognesi em entrevista à Folha.
PROJETO ANTIGO
Esse futuro foi escrito há pouco mais de um ano, mas o projeto é bem mais velho. Começou há dez anos, quando Bolognesi foi inundado de possibilidades após o sucesso de “Bicho de Sete Cabeças”.
“Eu adoro HQs e história do Brasil. O projeto ideal seria unir as duas coisas. Como somos irresponsáveis, decidimos fazer um longa animado”, brinca o cineasta.
Irresponsável por duas razões: 
1) O Brasil não tem tradição em animação de qualidade para o cinema; 
e
 2) O desenho, violento, não é feito para a criançada.
“Foi extremamente difícil vender o projeto. Todo mundo me chamava de louco”, diz o diretor. Bancado pelas produtoras Gullane e Buriti, o longa levou seis anos para virar realidade, teve um orçamento em torno de R$ 4,5 milhões e uma equipe de 30 jovens animadores.
“Começamos em Águas de Lindóia [interior paulista], porque o aluguel era mais barato. Passamos por Santos e terminamos em São Paulo. Alguns se casaram e tiveram filhos durante o processo.”
A espera valeu a pena. “Uma História de Amor em Fúria”, em que o personagem dublado por Selton Mello é uma espécie de highlander indígena com 600 anos, enquanto Camila Pitanga dá voz ao amor eterno do índio, é um produto de qualidade inédita do gênero no país.
Usa a equipe de som de “Tropa de Elite”, tem trilha sonora incidental comandada por Pupillo, da Nação Zumbi, e Rica Amabis e uma bela animação em 2D.
Bolognesi aproveitou o estilo americano que marca o traço de seus animadores para compor os personagens. Mas também mostrou à equipe desenhos como “Ghost in the Shell” (1995), e o coreano “Wonderful Days” (2003).
TRAFICANTE HERÓI
O visual fantástico esconde o tom didático do roteiro ao tratar de revoluções dos oprimidos contra a elite.
Traficantes são comparados a cangaceiros e retratados como heróis. “Todo mundo achava Lampião um monstro, assim como veem os traficantes hoje”, polemiza Bolognesi. O filme vai mais longe. Diante do corpo de um traficante morto, o protagonista fala: “Meus heróis não viraram estátuas, mas morreram lutando contra eles”.
“Essa narcocultura é erótica. O que vende no exterior é filme de mano com pano na cabeça e arma na mão, como ‘Cidade de Deus’ e ‘Tropa’. A violência é lamentável, mas o homem revoltado produz realidade. E ela é vida e morte.”

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Death and Ribirth



Morrer muda tudo. Há a queda emocional, claro. Mas também há a parte prática. Quem vai fazer o seu trabalho? Quem vai tomar conta da sua família? A única coisa boa é que não precisa se preocupar. Pessoas que você nunca viu, vão morar na sua casa, fazer o seu trabalho, a vida continua…sem você.
Dizem que morrer é mais difícil para os vivos. É difícil dizer adeus. Às vezes, é impossível. Você nunca deixa de sentir a perda. É o que faz as coisas tão agridoces. Deixamos pequenas partes de nós para trás, lembretes, uma vida cheia de memórias, fotos, quinquilharias. Coisas para sermos lembrados, mesmo quando nos formos.
Walk in my shoes?